A espiritualidade tem sido pesquisada como paradigma para entendimento do adoecimento cardiovascular (CV) e intervenção terapêutica em potencial. Como pensamos e sentimos pode estar associado à ocorrência ou não de doença CV. Ela deve ser vista como um aspecto dinâmico e intrínseco da humanidade que, por meio de pensamentos, atitudes, ações e reações nas circunstâncias da vida, faz com que as pessoas procurem significado, propósito e transcendência. A enfermidade refere-se à resposta subjetiva do paciente ao fato de não estar bem mesmo não havendo confirmação laboratorial ou clínica, mas que pode ser avaliada objetivamente por meio de questionários ou escalas. Há correlação com alterações bioquímicas, hormonais ou com desfechos clínicos dependendo da intensidade, da condição clínica avaliada ou de período de observação. Existem escalas e questionários para avaliação de enfermidade moral, como por exemplo, gratidão, disposição ao perdão, propósito de vida e otimismo. A espiritualidade está associada independentemente à mortalidade CV, como a disposição ao perdão se associa à doença arterial coronariana, gratidão com melhores desfechos clínicos em insuficiência cardíaca e a raiva está associada com disfunção ventricular e diabetes. As intervenções baseadas em perdão e gratidão têm mostrado benefícios em parâmetros correlacionados com a saúde mental, saúde física e qualidade de vida. Há necessidade de estudos randomizados em pacientes com doença CV que avaliem intervenções baseadas em solidariedade atitudinal sobre a melhora da sobrevida livre de eventos. Cientificamente, podemos enunciar: Quando começamos a adoecer? Inicialmente, teríamos o desequilíbrio espiritual na intimidade de nossa consciência, por causa das escolhas e enfrentamento das situações cotidianas que vivenciamos? Estamos fazendo de nosso ambiente moral nosso campo de pesquisa em Cardiologia e postulando que esse modelo, que inclui a modificação de condutas
comportamentais de cunho moral, permitiria a prevenção da doença CV.
Nem todo artigo científico aqui publicado expressa exatamente uma visão do centro de estudos da consciência. Como semeadores do conhecimento acreditamos que cada contribuição pode ser vista sob a ótica do questionamento coerente e esclarecedor.